Seriados no Brasil: os 10 nomes e traduções mais bizarros — parte II

Já falei anteriormente sobre o fato de estúdios brasileiros, que adquirem séries, realizarem um trabalho bizarro na hora de traduzir/adaptar os títulos das séries para o português. Afinal, por que isso acontece?

Hoje falarei sobre mais 10 seriados cujas adaptações, no Brasil, se tornaram bizarras. Sabemos que, muitas vezes, o título do programa tem relação com a cultura americana e, traduzi-lo para nossa língua pode perder um pouco o sentido. Porém, como #lhe #dar quando o sentido acaba sendo distorcido, para não dizer… errado? Vejamos:

One Tree Hill10º — One Tree Hill — Lances da Vida
Brooke ama Lucas que ama Peyton que ama Lucas. Um triângulo amoroso que começa no Ensino Médio e perdura durante várias temporadas. No meio dessa história, muitas outras se desenrolam e, do colegial, passam para a vida adulta. “One Tree Hill” cresce à medida que seus personagens evoluem. As histórias vão desde bullying, crises de identidade, separações, dramas com drogas… A série é toda musical, a trilha sonora do programa é belíssima, digna de ser comentada, são músicas que além de nomearem os episódios, são marcas registradas de cada um. Moda, amores, encontros e desencontros, vitórias e derrotas, assim é “One Tree Hill”, tão verdadeira que até virou nome de rua em Wilmington, Carolina do Norte, local onde a série foi inteiramente gravada.

No Brasil, “One Tree Hill” foi exibida pela FOX, responsável pela exibição de todas as temporadas do programa. Na TV aberta, o responsável pela transmissão foi o SBT, que nos premiou uma grande tradução. Diz a lenda que Mark Schwahn, o criador da série, deu o nome da cidade enquanto ouvia o disco “The Joshua Tree”, da banda irlandesa U2 (que por sinal, tem uma canção de nome One Tree Hill).

Por que isso aconteceu? Olha, é difícil compreender exatamente o que foi decidido quando resolveram adaptar o título para o português, afinal, o nome original faz jus ao nome da cidade em que os protagonistas moram. E talvez os problemas vivenciados pelos personagens sejam, de fato, “lances da vida”, ou coisas da vida, ou apenas fatos da vida. É o máximo imaginável.

Twins9º — Twins — QI de Loira
Mitchee é uma mulher inteligente formada em engenharia e que tem a determinação de uma bem sucedida empresária. Sua irmã gêmea Farrah é uma linda e impressionantemente perfeita modelo de lingerie. Mitchee e Farrah estão prestes a herdar o negócio de seus pais, a “Arnold Undergarments”, a quarta maior empresa de lingeries dos Estados Unidos.

No Brasil, a série foi exibida pela Warner Channel e, posteriormente, chegou à TV aberta através do SBT, que também exibiu a única temporada do programa. Mitchee e Farrah, de fato, são diferentes, uma é morena, a outra é loira, embora gêmeas, etc.

Por que isso aconteceu? Certamente é o caso de quem só assistiu ao episódio piloto da série e, logo em seguida, pensou em um nome que pudesse definir todo o enredo. Farrah é a típica loira fútil, todo mundo sabe, mas um seriado cujo nome é “Twins” (Gêmeas) não poderia receber um nome que faça referência somente a um dos personagens principais. E sem contar o termo pejorativo…

Close to Home8º — Close to Home — Em Nome da Justiça
Annabeth resolve retomar o trabalho após o nascimento de sua primeira filha e está pronta para assumir os mais complicados casos, abastecida pela paixão em proteger sua comunidade e sua família. Desafiando as estratégias legais de Annabeth está sua chefe, Maureen Scofield, uma advogada durona que não tem medo de exigir o máximo dela. E liderando a equipe está Steve Sharpe, o maior apoiador de Annabeth — embora ele sempre se preocupe com a repercussão dos casos dela na mídia.

No Brasil, a série foi transmitida pela Warner Channel e, mais tarde, foi a vez do SBT adquirir os direitos de exibição do seriado. Foram duas temporadas, que também foram exibidas pela TV aberta. O nome original faz referência ao trabalho de Annabeth, que busca proteger sua comunidade, aqueles próximos da sua casa, do seu lar.

Por que isso aconteceu? Bom, o episódio piloto mostra que a equipe de investigação elucida vários crimes, prende bandidos, ganha processos a favor dos inocentes, etc. E tudo isso é feito em nome da justiça, afinal, esse é o trabalho das equipes de investigação, da polícia, dos juízes e todos aqueles que trabalham nesse meio.

Lie to Me7º — Lie to Me — Engana-me se Puder
O Dr. Cal Lightman é o maior especialista do mundo em detectar mentiras. Se você mentir para Lightman, ele verá isso no seu rosto e na sua postura, ou irá ouvir em sua voz. Se você encolher seus ombros, girar sua mão ou mesmo se apenas levantar um pouco o seu lábio inferior, Lightman verá a mentira. Ao analisar expressões faciais e linguagens involuntárias do corpo, ele pode ler sentimentos escondidos que vão do rancor, à atração sexual, até o ciúme.

A série é deliciosa de se assistir, até mesmo quando a FOX dublou o sotaque inglês de Tim Roth. E no Brasil, a Rede Globo inseriu “Lie to Me” em sua grade de programação, com exibição nas madrugadas do canal, quando Jô Soares resolve tirar férias e eles colocam programas bons em horários lamentáveis.

Por que isso aconteceu? Cal é o melhor quando o assunto é mentiras, afinal, seu corpo não mente e é através dele que a verdade é externada, palavras não significam nada. Quem tentava mentir para Cal era, de cara, desmascarado e ficava com a cara na poeira. Ou seja, “engane o Cal se puder”. Talvez traduzir como “Minta Pra Mim” pudesse transformar o programa em um spin-off do Pinóquio. Não?

Birds of Prey6º — Birds of Prey — Mulher Gato
A ira do pior inimigo de Batman, o Coringa, provoca a morte da Mulher Gato, o verdadeiro amor do homem morcego. Batman abandona a cidade, e o dever de defender a justiça fica nas mãos da filha do comissário Gordon, que deixa de ser a Batgirl para converter-se a Oracle, uma mestra em cibernética e design de armas. Oracle, que agora está em uma cadeira de rodas, adota a filha secreta de Batman e da Mulher Gato: Huntress, que herdou a força de seu pai e a beleza e astúcia de sua mãe.

A única temporada do seriado foi exibida pela Warner Channel e, na sequência, o SBT nos trouxe os episódios dublados. Aqui a série até fez um sucesso razoável pela emissora do Silvio Santos, mas nada gritante. Ficou durante um bom tempo na grade do canal, até ser banida, para sempre.

Por que isso aconteceu? Dá pra perceber que os responsáveis pela tradução não leram a sinopse da série e, muito menos, assistiram ao episódio piloto. A Mulher Gato morreu e a herdeira dela também é filha do Batman. Mistura de gato com morcego não é uma nova nova Mulher Gato. Francamente, não faz nenhum sentido, mesmo porque birds of prey significa “aves de rapina”.

It's All Relative5º — It’s All Relative — Casal Gay
Bobby é um rapaz simples que trabalha no pub de sua família. Seus pais, Mace e Audrey, são irlandeses e católicos fervorosos. Sua noiva, Liz, é uma rica estudante de medicina em Harvard e protestante (e não, esse não é um problema). Liz tem dois pais, não somente um, e eles são um bem sucedido casal gay — Philip, dono de uma galeria de arte, e Simon, que trabalha como professor.

A temporada curta, que durou apenas 20 episódios, nos trouxe, de fato, um casal gay responsável pelas cenas mais hilárias do programa. Porém, a série não girava em torno unicamente de Philip e Simon, haviam os pais tradicionais de Bobby, havia o próprio Bobby e havia Liz, a filha do casal gay. E temos Maddy, a irmã revoltada de Bobby…

Por que isso aconteceu? Aqui é um daqueles tradicionais casos de quem assistiu somente ao episódio piloto da série. Perceberam que havia um casal gay que adotou uma filha e pronto! Temos o nome do seriado, que reflete todo o enredo. Só que não. “Casal Gay” ficou estereotipado, quando o nome original conseguia abranger toda a família e, até mesmo, o fato de duas famílias improváveis se juntarem em uma só.

Joey4º — Joey — Vida de Artista
Matt LeBlanc continuou com seu charmoso personagem Joey Tribbiani no spin-off de “Friends“. Após o nascimento dos gêmeos de Monica e Chandler, o casamento de Phoebe e Mike e a volta de Rachel e Ross, Joey deixa New York e vai para Hollywood, na tentativa de melhorar sua carreira de ator, dando adeus à época em que seus amigos eram a sua família, tendo a chance de transformar sua família em seus amigos.

Todo mundo sabe quem é Joey, mesmo sem ter assistido ao seriado. Ele ficou durante 10 anos (e dez temporadas) alegrando os fãs da saudosa “Friends”, porém, sua vida solo durou pouco: apenas duas temporadas, com 46 episódios, sendo que os quatro últimos episódios nem sequer foram exibidos nos Estados Unidos…

Por que isso aconteceu? Realmente, Joey era um artista, um ator que buscou fama, posição social, oportunidades. Mas a série carrega o seu nome, afinal, o spin-off foi criado para que pudéssemos acompanhar a vida do galã de “Friends”. Quando chegou no Brasil, através do SBT, em meados de 2006, o programa recebeu o infeliz nome de “Vida de Artista”, removendo toda a identidade da série. Lamentável!

Everybody Loves Raymond3º — Everybody Loves Raymond — Raymond e Companhia
Ray Romano assume o personagem título da série, que mostra a vida familiar de Ray Barone, um bem sucedido jornalista esportivo. A boa notícia é que ele vive em Long Island com sua esposa Debra, sua filha Ally e seus gêmeos Geoffrey e Michael. A má notícia é que os intrometidos pais de Ray, Frank e Marie, moram do outro lado da rua, e seguem ao pé da letra o ditado “minha casa, sua casa”, fazendo com que eles estejam a toda hora na casa de seu filho.

O seriado foi um sucesso, ficando nove temporadas no ar, arrecadando uma quantia final de 210 episódios. Seus atores ganharam diversos prêmios e as noites da rede americana CBS foram mais felizes e divertidas enquanto o programa permaneceu no ar. No Brasil, “Everybody Loves Raymond” foi veiculada pelo canal Sony (que manteve o nome original) e, a partir de 2011, pelo canal TBS, responsável pela tradução do nome.

Por que isso aconteceu? Raymond tem carisma e é engraçado, isso lhe rende muitas amizades e alimenta o amor e carinho que sua família tem por ele. Por isso que todo mundo ama o Raymond. A ideia de quem “traduziu” o nome acabou com a essência da série. Afinal, quem conhece a relação de Raymond e seu irmão Robert, consegue entender perfeitamente o que o título original representa. Mancada!

The Fresh Prince of Bel-Air2º — The Fresh Prince of Bel-Air — Um Maluco no Pedaço
O que pode se esperar de uma série que retrata a rotina de um adolescente negro, chamado Will Smith, de origem muito pobre, nascido e criado nas ruas e quadras de basquete da Filadélfia? Após uma briga com alguns garotos da rua, a mãe de Will, com medo do futuro do filho, resolve enviá-lo para a casa do seu cunhado, Philip Banks, um juiz muito bem sucedido, que mora na elegante e luxuosa Bel-Air, em Los Angeles, para que o filho possa ter uma educação melhor.

Responsável por lançar Will Smith no mundo do entretenimento, o programa foi bem recebido pela crítica e arrecadou fãs no mundo inteiro. Com seis temporadas e 148 episódios, a proposta da série era retratar como seria a nova vida de Will, como o novo príncipe de Bel-Air lidaria com essa nova realidade, cheia de luxos e de costumes alheios à sua criação.

Por que isso aconteceu? Quando chegou ao Brasil, o seriado foi transmitido pela Warner Channel durante muitos anos, com o nome original. Ao aterrizar no SBT, infelizmente, com essa mania de “adaptação”, “The Fresh Prince of Bel-Air” ganhou o bizarro nome de “Um Maluco no Pedaço”. Vamos concordar que Will não era maluco, mas sua transição de um garoto pobre para uma vida repleta de regalias pode ter sido o fator responsável pelas situações mais engraçadas do seriado. E o “maluco” conquistou gerações de fãs, mesmo sendo injustiçado com tal “tradução”!

Queer as Folk1º — Queer as Folk — Os Assumidos
Brian Kinney é o trintão com alma de Peter Pan. Vive em seu mundo particular, é cobiçado por todos os rapazes de Pittsburgh (e tem consciência disso), tem um emprego estável e um apartamento invejável. É amigo de infância de Michael Novotny, um maníaco por quadrinhos, gerente de uma loja de departamentos. A relação de Brian e Michael é entrelaçada de amor, mágoa e, talvez, a decepção de algo que nunca se concretizou. Já deu pra perceber que a série foca na vida de um grupo de amigos LGBT? Não? Bom, “Queer as Folk” fala do cotidiano de personagens gays, lésbicas e simpatizantes, seus medos, aflições, romances, desejos, emoções, família, relacionamentos e outras histórias que qualquer série realista busca contar.

Transmitida entre 2000 e 2005, seus 83 episódios foram marcados por muita dor, rejeição, humilhação, mas também por muita tolerância, carinho, amizade, dedicação e, principalmente, amor. Sem escapar do apelo sexual, “Queer as Folk” causou impacto, deu a cara ao tapa e revelou ao mundo que gays e lésbicas são seres humanos e que também merecem um lugar ao sol. Desmistificou, mas também reforçou estereótipos, mesmo porque eles são reais, embora incompletos.

Por que isso aconteceu? Ao ser transmitida no Brasil pelo Cinemax, tivemos o baque da adaptação do nome: “Os Assumidos”. Tudo bem, todos eram assumidos e, até quem não era, eventualmente fazia o outing no decorrer da série. Traduzir literalmente o título original não daria certo, já que “Queer as Folk” é uma sátira com um ditado americano que diz “nobody is so weird as folk” (algo como “ninguém é tão estranho quanto nós”). Convenhamos que o título em português não é nem um pouco comercial e, no fundo, causa um certo estranhamento. É preciso superar esse estranhamento, o que acaba acontecendo quando se entra no universo desses garotos e garotas de Pittsburgh.

Em uma das cenas da primeira temporada, Justin enfrenta seu pai e diz: “independente do que você faça, não vai importar, eu continuarei sendo seu filho gay”. Talvez uma das cenas e uma das frases mais impactantes de todas as cinco temporadas:

E aí, alguma outra série que, na sua opinião, também tem um nome bizarro que é praticamente indecifrável? Aproveite e confira a parte III.

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2 Responses

  1. Estela disse:

    Nossa, não sabia que Joey virou Vida de Artista. Fã de Friends: #todaschora

  2. Andre disse:

    Apenas corrigindo, Queer as Folk só teve 5 temporadas e não 6!! Mas rinfelizmente essas traduções bizarras não acontece só com series , tem filmes qe o titulo em português não tem nada a ver com o ingles! Tipo SAW que é o nome do cara que faz os jogos, transformou-se em JOGOS MORTAIS!! Convenhamos que não tem nada  a ver, mas as vezes esses nomes toscos podem chamar a atenção das pessoas no brasil para assistir as series..

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